segunda-feira, 30 de junho de 2008

O vento...


"O vento passeia entre os reluzentes fios da cascata negra que te escorre pelos ombros...
A seiva borbulhante, mesmo gelada, aquece o coração... e lhe tira aos poucos, um sorriso suave...
Norteia o teu caminho as belezas nascidas em brisas que falam ao pé do ouvido...
E salivam palavras de querer...
São como cachos de estrelas, soltas no mar...
A dureza da muralha, a lança mortal, não consegue esconder a suavidade de ser ave...
De plumas claras, sinuosa e delgada... fênix de envergadura invejável...
Onde estão teus pés ave do paraíso?
Hoje vi a lua beijar a terra gélida e terna... enquanto o sol rompia o fimamento, veloz, pra varrer o frio da noite passada...
A dor do nascimento transformou-se em cor... o milagre diário abraçou o mundo, mais uma vez...
O riso da criança acalmou a dor da espera...
Quantos olhos brilharam ao ouvir teus simples desejos... olhos de inesgotáveis centelhas, que velam por tí...
Do alto avista uma Constantinopla de areia e sonhos... o vento não soprou... e por ti ... não, nunca soprará...
ele quer teu caminho quente... e apenas voltar a lampejar furtivo ao teu ouvido...
Pergunta: Não queres voar?
Tens asas, ave do paraíso... nasceste sem pés para poder cumprir a sina de voar pelo tempo dos tempos...
Singrar os ares, tendo como teu leme tua bela face... teus olhos são como os mapas da felicidade certa...
És do ar... da terra infinta que abraça sem te tocar... enquanto desenha o caminho sob tuas asas...
Até chegar as frutas doces, que te beijam enquanto tu as devora e saboreia...
Na troca mais simples do ar, pelo ar...
Mergulha nesse azul infinito... de peito e alma abertos...
Recusa as ofertas das asas negras de Ísis...
Cinge o pescoço com um colar de ostras maduras, cravejadas com estrelas peroladas...
Rasga o manto da surpresa... pois, és alma única, onde habita um coração no paraíso de ser ave...
Toca de leve com tuas plumas o rosto do vento... que sorri jocosamente e agradeçe com humildade serena... por estar imerso em felicidade."